sábado, 4 de outubro de 2008

Artigo Semiótica : Substituição signica - de O Livro de Cabeceira à performance de linguagem sensorial não verbal

Nascido de uma referência tão contemporânea, nada mais poderia impor-se em causar que não fosse um choque. Possivelmente agradável à pessoas distintas, assim como essa nova arte dita de Ortega y Gasset - a contemporânea – por não revelar um começo-meio-fim já entregue, de novela televisiva. Digo pertencente a uma classe específica de homens distintos por não tratar de recursos 'genericamente humanos', fugindo do senso comum clichê de prazer estético: aquilo que 'agrada' a quem observa, mantem relações com propósitos humanos, não confronta, há uma identificação de algo já conhecido ou desejado, uma 'terceridade imediata', ou significação simbólica pré estabelecida, logo de início.
Puramente de arte, de grande requinte estético, com um misto de informações de velocidade organicamente estonteante – visto que o pensamento se processa com velocidade ainda superior – num misto de imagens e informações que se ligam e se relacionam. De temática que, os pudorados tentam esconder e sufocar. Conflitos, anseios, desejos, observações naturais, pertencentes a todos, porém tão dificil de ser transposta a uma obra.
O livro de cabeceira como referência logo de cara sugere inovação, contemporaneidade, subjetividade. Junto de sua análise, se destaca a grande importância de signos que incitam sensações interiores e subjetivadas em todos: as fragilidades humanas, a eterna busca de ter o que buscar, o sexualismo presente em pequenos atos, o desejo de vingança e auto-realização. Tomando esses conceitos como essenciais à trama e crônicos aos universo particular dos individuos.
A partir das cenas captadas como sintetizantes da obra em linguagem verbal troxe-se o mundo de Nagiko, nossa protagonista, pra dentro do nosso mundo, nosso repertório, num jogo inicialmente livre de analogias com os Representamens que seriam aplicados ao Objeto. Como um brainstorming sensorial revelou-se - e com dificuldade, visto se tratar de um universo tão pessoal - experiências com o desejo, o tesão, a vingança, a busca, a carnalidade, o toque, o erotismo vivenciados de maneiras diferentes e com sensações e percepções diferentes por cada componente da nova linguagem não verbal que estaria a ser idealizada, descritas em sua resolução à seguir. Essa nova construção – realizada após uma total desconstrução da obra referencial – em linguagem não-verbalizada se transpôs como, com base no experimento, deseja-se ocorrer.
Na sala de espera, ante a experiência performática-sensorial, aguarda-se de costas para a porta que seja anunciada a entrada do espectador. Sem aviso prévio de entrada, os agentes do ato surpreendem o espectador, pelas costas, vendando-lhes os olhos, como num excitante jogo de sedução, e o encaminhando, cegamente / sensualmente para uma atmosfera desconhecida de misteriosa.
Passando por uma segunda interferência, coloca-se no visitante uma mordaça, o 'impedindo' de mais um sentido sensorial – assim como os desejos reais são abafados por medos, anseio, inseguranças – senso após levado para uma poltrona, onde também lhe serão vedados os movimentos, preso o corpo com uma corda. Um fetishista? Um louco em um manicômio? O medo do prisioneiro na cadeira elétrica?
Uma música em alto som é ouvida. Imagina-se o óbvio, música para relaxar, haverá um estímulo sensual e relaxante. A música transforma-se em violência e perturbação sonora. Apertos, toques em locais desagradáveis, chacoalhões, incomodos. Novamente musica relax, aguarda-se a massagem sutil e em seu lugar o esporro, ferocidade em estágio ainda maior e ao trocar novamente o som (musica perturbadora / agressiva) inicia-se movimentos leves e estímulos cariciosos erotizados. Piii! Ouve-se o som do total estonteamento, inquietude, perturbação. Silêncio.
Desamara-se o experienciador. Retira-lhe a mordaça. Retira-lhe a venda. Pronto, esta-se novamente em liberdade. Mas acostumado a ser sempre guiado, não saberá o que fazer ao ver-se livre. Se desconforto ainda o tiver caminhará para a saída rapido, se estiver deslocado pelo choque de contrastes ficará sem ação até que perceba que está liberto e já poderá sair daquele ambiente. Sua busca acabou. Ou está apenas começando...

[André Daniel]

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